terça-feira, agosto 19, 2008

Boris e Black Cat


Cresci em um conjunto de apartamentos apertados,
Nem sei direito o que é ter espaço próprio, nem privacidade,
Com a cabeça pressionada pelo baixo teto,
Minha mãe sempre me escuta dando “tiros” no banheiro.

Vou dar uma volta, preciso encontrar minha corja
Arrumar uma briga, assaltar algum riquinho, não sei
Preciso fazer algo, pois meu pó acabou de acabar,
Captar grana é preciso, para nesse inverno se esquentar.

Mal saio na rua, alguém me oferece um trago,
Aquele velho do bar, com sorriso desdentado, quer me dar um troco,
Põe as mãos em suas bolas e aperta, perguntando se eu quero companhia,
Recuso, pois 20 contos é muito pouco por hoje, pelo meu prazer e serventia.

É muito difícil crescer aqui com 16 anos,
A expectativa de vida adulta não passa dos 20,
A facilidade disso tudo é endurecer num meio desses,
Mas ficar longe disso tudo é negar minha própria existência.

Vou ver minha gata negra, ela mora á quatro quadras daqui,
Com meu casaco preto de capuz, me protejo do frio cortante de julho,
E me disfarço de hiena histérica entre as rodas de perigosos chacais,
Sou um infame habitante de um covil de boçais.

A encontro na quadra de futsal, com seu semblante soturno habitual,
Pobre garota, apanhando de sua despeitada mamãe,
Ganhou uma cicatriz no canto na boca,
Um belo “presente” materno, por defender-se, ao passar a faca no seu “paizinho” num momento tão terno.

Ela é uma garota de cabelos curtos e pretos como petróleo,
Lábios grossos fortemente avermelhados de batom vagabundo,
Lápis nos olhos, contornando olhos azuis celestiais,
De quem já observou sua desgraça familiar, desferidos por seus certeiros golpes mortais.

Uivando juntos á lua, cantamos em ode á nossa desgraça eterna,
Um cemitério perto de nossas casas parece bem providencial
Lugar melhor para nos amar não há,
Já que nos acostumamos com a idéia que logo encaixotados viremos para cá...

(Continua...)