terça-feira, março 03, 2009

Paul´s Boutique (1989)


Escutar “Hey Ladies” pela primeira vez, não foi fácil... Foi como um milhão de batimentos cardíacos por segundo.
Aquele monte de colagens, aquela guitarrinha funky de “Machine Gun” dos Commodores, e do nada, a musica simplesmente acaba e começa uma gritaria como num filme de faroeste com um banjo bluegrass no fundo!Aí para tudo de novo, e começa um riff metaleiro pesadíssimo... WHATAFUCKISTHAT????
Isso porque é apenas uma pequena fração de uma obra prima chamada “Paul´s Boutique”.
Os Beastie Boys haviam cometido a grande (e boa) piada dos anos oitenta chamada “License to Ill”, que não pediram licença pra nada e foram enfiando versos machistas e malcriados, com uma cara de pau branca e sem nenhum constrangimento.Misturando Led Zeppelin e Funks setentistas (milimetricamente supervisionado pelo futuro Big-Boss-Genius-Producer- Rick Rubin)
Foi o disco de estréia mais vendido da historia até então, o primeiro grande hit do Hip Hop, e abriram shows na turnê “Like a Virgin” da Madonna.
Nada mal pra uns garotos judeus que cresceram no Brooklin cercados por Punks, Pimps, Rude boys, Jamaican kids, Bad Brains e uma crescente cena Hardcore N.Y.
Mas os três mc´s precisavam de mais respeito da cena hip hop.Eles precisavam de um segundo disco.
Vamos contextualizar...
Já que o primeiro foi uma grande e famosa piada, como iriam superar isso?Como continuar a ser engraçado e sacana? Ou pior, como se firmar como um grupo “sério”? Forçar um amadurecimento, poderia parecer forçado e sem graça.
Eis que por uma Epifania, nunca vista desde os Atos dos Apóstolos, no dia 25 de julho de 1989, surge “Paul´s Boutique”.
Novamente sem licença pra entrar (e samplear), e produzido pelos Dust Brothers, eles lançaram uma nova revolução musical, e como o João Batista biblico, o mundo não estava preparado para isso.(Dizem que ela chegou 2 anos mais tarde...but “nevermind”).
Era uma época que o Gangsta Rap estava começando a crescer com Coolio e uns caras barra pesada de L.A, uma galera chamada Nigger With Attitude, lentamente tomavam conta do pedaço.
Enquanto na costa Leste (lar dos Beasties), Chuck D trazia muito barulho e discursos políticos sobre ter “Medo do Planeta Negro”.
Nesse contexto, por mais absurdo que seja, “Paul´s Boutique” não tinha espaço, era vanguardista demais, experimental demais, produzido demais, para enquadra-lo na burra Top Chart da Billboard.
Por outro lado, o album teve seu lance de sorte, pois seria impossível de concebê-lo nos dias de hoje com seus absurdos 105 samplers (!!!), seria sem duvida o disco mais caro da historia (ganhando fácil de Chinese Democracy), só com os direitos autorais.
E é essa a graça do disco, um monte de colagens muito bem sacadas, homenageando e sacaneando seus ídolos (ou não),a cada vez que se escuta essa obra, dá pra perceber alguém diferente cantando ou tocando, é realmente uma viagem a cada orelhada.
As letras bem humoradas (sim!), só que com uma inteligência sacana, e sem “cabecisse”, eram retratos impressionistas, sob uma colcha de retalhos sonora.
Tudo isso mudou minha maneira de encarar a musica, ainda mais eu, um garoto branco de 14 anos, metido á rocker, achando que tudo que não era “roque” era inferior, e que a única figura heróica negra era a de Hendrix, realmente foi um verdadeiro choque.
Depois disso aprendi a escutar melhor um disco, a querer saber da historia, do contexto, o que diz as letras, quem produziu, qual a sacada e principalmente a conhecer profundamente uma obra, antes de critica-la.
Com certeza foi um chute na cara do meu mini-preconceito musical até então.
Fui atrás do que eles estavam falando, porque alguém misturaria “The End” dos Beatles com Dancehall do Pato Banton, o glam rock do Sweet e o pancadão de James Brown numa mesma música!?
Insanidade? Devaneio?Não!É a compreensão plena de uma arte!É simplesmente a clareza da vida!
A cultura pop nunca mais foi a mesma, e principalmente a minha concepção do que se trata a musica em sua pureza e realidade.
Se algum dia alguém me enviar pra uma ilha e pedir que eu escolhesse somente um disco, certamente seria esse, pois a partir dele, eu conseguiria explicar aos meus filhos, do que trata uns artistas do kilate de Afrikaa Bambataa, Paul Mcartney, Ramones e Pink Floyd.

Obrigado B.E.A.S.T.I.E.S !!!